Entrevista a Fayez Badawi (FPLP): «Os palestinianos não querem uma paz de cemitérios»

Avante - 14 Set 2017

A solidariedade internacional é fundamental. Sem ela a África do Sul racista não teria sido derrotada. O isolamento do regime de apartheid contribuiu decisivamente para o seu derrubamento. O mesmo será determinante no caso da Palestina e para a derrota do sionismo

 - Os movimentos de resistência palestiniana têm dito que no chamado processo de paz, Israel e os imperialistas apostam no processo e os palestinianos na paz. Como é que isto se traduz?

 O povo palestiniano está sob agressão há mais de cem anos, enfrenta um autêntico genocídio. Somos os principais interessados na paz. Contrariamente à aliança sionista-imperialista, que a não quer não apenas na Palestina mas em todo o Médio Oriente. Os palestinianos não querem uma paz de cemitérios, que consolide a opressão social e nacional. Por isso insistimos na resistência sob todas as formas necessárias. Só através dela se poderá impor uma paz justa.

 A Frente Popular de Libertação da Palestina sempre colocou muitas reservas aos Acordos de Oslo, desde logo por terem sido conduzidos pelos EUA, mas sobretudo porque não garantiam cabalmente qualquer direito aos palestinianos. Infelizmente o tempo deu-nos razão. O número de colonos e os colonatos, a extensão das terras roubadas, os cercos, as expulsões, as agressões militares só têm aumentado. Considerámos e mantemos que a solução mais justa e duradoura será a criação de um Estado laico no qual convivam todos os povos e confissões.

- Essa foi sempre a proposta da FPLP para a resolução do conflito israelo-árabe?

 Sim. A chamada solução de dois Estados está sujeita à manipulação de Israel e dos EUA e esbarra numas Nações Unidas que se encontram sequestradas.

 Há depois outro aspecto. Eu sou natural do Norte de Haifa. Como eu, muitos palestinianos no exílio nasceram em territórios anexados por Israel. O que vão fazer connosco? Vão enviar-nos para uma terra que não é a nossa? Então como fica o direito ao retorno? Os palestinianos não podem ser tratados como mercadoria que se envia para ali ou para acolá.

 Judeus, muçulmanos e cristãos conviveram durante séculos naquele território e serão capazes de o fazer sob um único Estado. O problema é que prevalecem os interesses da aliança sionista-imperialista, que sustenta Israel como base avançada dos EUA no Médio Oriente.

- É por esse tipo de posição que a FPLP é particularmente visada pela repressão israelita?

 A FPLP tem grande apoio popular. Os palestinianos identificam na FPLP a força que está sempre na primeira linha, que defende os seus direitos. A propaganda imperialista acusa-nos de anti-semitismo. Como podemos ser anti-semitas se nós próprios somos semitas? Outra coisa é sermos anti-sionistas. O sionismo baseia-se na discriminação.

- Como é que se resiste?

Vivendo com dignidade e morrendo de pé, se assim tiver de ser. Forjando a unidade no concreto, como tem sucedido nas lutas dos presos palestinianos nos cárceres israelitas, durante as quais os membros das diversas forças da resistência palestiniana rejeitam negociar sem o acordo e a presença de todos os movimentos. Por outro lado, a solidariedade internacional é fundamental. Sem ela a África do Sul racista não teria sido derrotada. O isolamento do regime de apartheid contribuiu decisivamente para o seu derrubamento. O mesmo será determinante no caso da Palestina e para a derrota do sionismo.

 

[Entrevista tirada do sitio web portugués Avante, núm. 2.285, do 14 de setembro de 2017]