Imigração: Guerras ocidentais e cxploração imperial desenraízam milhões

James Petras - 11 Xul 2018

Iraque, Afeganistão, Síria, Colômbia, México assistiram à fuga de milhões de emigrantes – todos eles vítimas das guerras dos EUA e da UE. Washington e Bruxelas responsabilizaram as vítimas e acusaram os imigrantes de ilegalidade e de conduta criminosa

Introdução

 A ”imigração” tornou-se o tema dominante que divide a Europa e os EUA, mas todavia a questão mais importante que vem levando milhões a emigrar é ignorada – as guerras.

 Iremos neste estudo discutir as razões que estão por detrás da massificação da emigração, focando diversos temas, nomeadamente: (1) guerras imperiais (2) expansão multinacional das grande corporações (3) o declínio dos movimentos antiguerra nos EUA e na Europa Ocidental (4) a debilidade dos movimentos sindicais e de solidariedade.

 Iremos partir da identificação dos maiores países afectados por guerras dos EUA e da UE conduzindo a emigração massiva, e voltar-nos depois para as potências ocidentais forçando os refugiados a “seguir” os fluxos dos lucros.

Guerras Imperiais e Emigração em Massa

 As invasões e guerras dos EUA no Afeganistão e Iraque desenraizaram milhões de pessoas, destruindo as suas vidas, famílias, modo de vida, habitação e comunidades e minando a sua segurança.

 Em resultado disso, muitas das vítimas viram-se perante a escolha entre resistir ou fugir. Milhões escolheram fugir apar Ocidente, uma vez que os países da NATO não iriam bombardear a sua residência nos EUA ou na Europa. Outros que fugiram para países vizinhos foram perseguidos ou ficaram a residir em países demasiado pobres para lhes oferecerem emprego ou oportunidades de vida.

 Alguns afegãos fugiram para o Paquistão ou o Médio Oriente mas vieram a descobrir que essas regiões eram também objecto de ataques armados do Ocidente.

 Os iraquianos foram devastados por sanções ocidentais, invasão e ocupação e fugiram para a Europa e, em menor escala, para os EUA, Estados do Golfo e Irão.

 Antes da invasão pelos EUA-UE, a Líbia era um país “receptor”, aceitando e dando emprego a milhões de africanos, atribuindo-lhes cidadania e condições de vida decentes. Depois do ataque EUA-UE e o armamento e financiamento de bandos terroristas, centenas de milhares de imigrantes subsarianos foram forçados a fugir para a Europa. Muitos atravessaram o Mar Mediterrâneo em direcção ao ocidente via Itália, Espanha, e encaminharam-se para os prósperos países europeus que tinham devastado as suas vidas na Líbia.

 Os exércitos terroristas, clientes financiados e armados pelos EUA-UE que atacaram o governo sírio e forçaram milhões de sírios a fugir através das fronteiras para o Líbano, Turquia e, mais longe para a Europa, causando a chamada “crise de imigração” e a ascensão de partidos de direita anti-imigração. Isto levou a divisões no interior dos partidos social-democratas e conservadores estabelecidos, uma vez que sectores da classe operária se tornaram anti-imigrante.

 A Europa está a colher as consequências da sua aliança com o imperialismo militarizado EUA, que desenraíza milhões de pessoas enquanto a UE despende milhares de milhões de euros para cobrir o custo de imigrantes em fuga das guerras ocidentais.

 A maioria dos apoios sociais recebidos pelos imigrantes fica muito longe das perdas sofridas nas suas terras. Os seus empregos, habitações, escolas e associações cívicas nos EUA e na UE têm muito menos valor do que aquilo que possuíam nas suas comunidades de origem.

Imperialismo Económico e Imigração: América Latina

 As guerras, intervenções militares e a exploração económica dos EUA forçaram milhões de latino-americanos a emigrar para os EUA, Nicarágua, El Salvador e Honduras, empenhados na luta popular por justiça socioeconómica e democracia política entre 1960 e 2000. À beira da vitória sobre os terratenentes oligarcas e as corporações multinacionais, Washington bloqueou os insurgentes populares gastando milhares de milhões de dólares a armar, treinar e aconselhar as forças militares e paramilitares. A reforma agrária foi abortada; sindicalistas foram forçados a exilar-se e milhares de camponeses fugiram às campanhas de terror e pilhagem.

A época das Guerras Imperiais

 Os regimes oligárquicos apoiados pelos EUA forçaram milhões de desalojados e desenraizados, desempregados e sem terra e fugirem para os EUA.

 Golpes e ditadores apoiados pelos EUA resultaram em 50.000 na Nicarágua, 80.000 em El Salvador e 200.000 em Guatemala. O Presidente Obama e Hillary Clinton apoiaram um golpe militar em Honduras que derrubou o Liberal Presidente Zelaya — o que levou a que milhares de activistas camponeses e defensores dos direitos humanos fossem mortos ou feridos, ao regresso dos esquadrões da morte, resultando numa nova vaga de emigração para os EUA. O acordo de comércio livre promovido pelos EUA (NAFTA) levou centenas de milhares de agricultores mexicanos à ruína e aos baixos salários nas maquiladoras; outros foram recrutados pelos cartéis da droga; mas a maior parte foi forçada a imigrar através do Rio Grande.

 O “Plano Colômbia” lançado pelo Presidente Clinton instalou sete Bases militares dos EUA na Colômbia e disponibilizou 1 milhar de milhões de dólares de ajuda militar entre 2001 e 2010. O Plano Colômbia duplicou a dimensão das forças armadas colombianas.

 A acção do Presidente Alvaro Uribe resultou no assassínio de mais de 200.000camponeses, activistas sindicais e defensores dos direitos humanos por parte dos esquadrões da morte dirigidos por Uribe. Mais de dois milhões de agricultores fugiram dos campos e imigraram para as cidades ou para o outro lado das fronteiras.

 As empresas norte-americanas garantiram centenas de milhares de trabalhadores agrícolas e industriais latino-americanos com baixos salários e praticamente na totalidade sem garantias sociais nem de saúde – embora pagassem impostos.

 A imigração duplicou os lucros, minou os contratos colectivos e baixou os salários nos EUA. “Empreendedores” EUA sem escrúpulos recrutaram imigrantes para as drogas, prostituição, negócio de armas e lavagem de dinheiro.

 Políticos exploraram a questão da imigração para obter ganhos políticos – responsabilizando os emigrantes pelo declínio dos padrões de vida da classe operária, desviando a atenção da causa real: guerras, invasões, esquadrões da morte e pilhagem económica.

Conclusão

 Tendo destruído as vidas dos trabalhadores no estrangeiro e derrubado dirigentes progressivos como o Presidente líbio Khadafi ou o Presidente das Honduras Zelaya, milhões foram forçados a tornar-se emigrantes.

 Iraque, Afeganistão, Síria, Colômbia, México assistiram à fuga de milhões de emigrantes – todos eles vítimas das guerras dos EUA e da UE. Washington e Bruxelas responsabilizaram as vítimas e acusaram os imigrantes de ilegalidade e de conduta criminosa.

 O Ocidente debate a expulsão, a detenção e a prisão em vez das reparações devidas por crimes contra a humanidade e violações do direito internacional.

 Para restringir a imigração o primeiro passo é pôr fim às guerras imperiais, retirar as tropas, acabar com o financiamento a paramilitares e a terroristas ao serviço.

 Em segundo lugar, o Ocidente deveria estabelecer um fundo de longo prazo de multi-biliões para a reconstrução e a recuperação das economias, mercados e infra-estruturas que bombardearam.

 O falecimento do movimento da paz permitiu aos EUA e à UE lançar e prolongar guerras em série que conduziram a emigração massiva – a chamada crise dos refugiados e fuga para a Europa. Existe uma ligação directa entre a conversão dos liberais e social-democratas a partidos da guerra e o forçado êxodo de emigrantes em direcção à UE.

 O declínio dos sindicatos e, pior, a sua perda de militância conduziu à perda de solidariedade com as pessoas vivendo no meio das guerras imperiais. Muitos trabalhadores dos países imperialistas dirigiram a sua ira contra os “debaixo” – os imigrantes – em vez de contra os imperialistas que dirigiram as guerras que criaram o problema da imigração.

 Imigração, guerra, o desaparecimento dos movimentos da paz e dos trabalhadores e partidos de esquerda tem levado à ascensão dos militaristas e neoliberais que têm vindo a assumir o poder por todo o lado no Ocidente. As suas políticas anti-imigração têm, contudo, provocado novas contradições no interior de regimes, entre elites dos negócios e entre movimentos populares na UE e nos EUA. A luta da elite e a luta popular podem conduzir no mínimo em duas direcções – em direcção ao fascismo ou em direcção à social-democracia radical.

 

[Artigo tirado do sitio web portugués ODiario.info, do 7 de xullo de 2018]