Síria resiste

Pedro Guerreiro - 20 Abr 2018

A agressão promovida pelos EUA e seus aliados contra a Síria e o seu povo não é apenas dirigida a estes, ela insere-se na escalada de confronto e agressão mais geral contra todos os países e povos do mundo que não se submetam ao domínio hegemónico do imperialismo norte-americano

 Para o imperialismo, o destino da República Árabe Síria estava há muito traçado. Incluída há anos na lista de países a «abater» pelos EUA e, em 2002, por John Bolton, nos ditos «Estados marginais», a Síria é vítima de uma operação de desestabilização e agressão desde 2011, na senda e no molde da que destruiu brutalmente a Líbia.

 Promovendo a estigmatização política, impondo o bloqueio económico, lançando as suas hordas terroristas – portadoras do mais reaccionário obscurantismo e violência fascista e responsáveis pelos mais hediondos crimes contra o povo sírio – e engendrando os mais variados e falsos pretextos para intervir, e mesmo ocupar, militarmente a Síria, os EUA, com os seus cúmplices na Europa e no Médio Oriente, contavam transformar este país naquilo que o actual director da CIA denomina de «Estado falhado».

 Só a firme resistência da Síria e do seu povo, apoiada pelos seus aliados – com destaque para a Federação Russa –, torna possível contrariar tais intentos.

 Por mais que o imperialismo, coadjuvado pela sua panóplia de assumidos ou dissimulados cúmplices, procure escamotear, a situação na Síria, a verdadeira tragédia que se abateu sobre o povo sírio, resulta de uma brutal guerra de agressão dos EUA e seus aliados – que conta com a conivência e o apoio da NATO, da União Europeia e de altos responsáveis das Nações Unidas –, em claro confronto com o direito internacional, com os direitos do povo sírio, incluindo o direito à paz e a decidir, livre de quaisquer ingerências, o seu futuro.

 Aqueles que conscientemente escamoteiam tal realidade, aqueles que premeditadamente procuram confundir os agressores com os agredidos, os terroristas com as suas vítimas, os que atacam a Síria com os que defendem o seu país e o seu povo, tornam-se cúmplices da agressão – aliás, como se verificou com a agressão ao Iraque ou à Líbia.

 Defender o povo sírio significa exigir o fim da guerra de agressão contra a Síria e denunciar os seus responsáveis; significa exigir o fim do branqueamento e apoio aos grupos terroristas; significa exigir o cumprimento da Carta da ONU e do direito internacional como condição para a salvaguarda da soberania, independência e integridade territorial da Síria – incluindo o fim da ilegal ocupação dos Montes Golã por Israel – e do respeito dos inalienáveis direitos do povo sírio; significa repudiar a lamentável e seguidista posição do Governo português e exigir que, no respeito pela Constituição da República, Portugal se deve demarcar desta agressão e apoiar iniciativas em curso com vista ao diálogo, à paz e à cooperação.

 A agressão promovida pelos EUA e seus aliados contra a Síria e o seu povo não é apenas dirigida a estes, ela insere-se na escalada de confronto e agressão mais geral contra todos os países e povos do mundo que não se submetam ao domínio hegemónico do imperialismo norte-americano, que degladiando-se com uma crise, procura reverter a todo o custo o seu declínio relativo, face a um imenso processo de rearrumação de forças ao nível mundial, onde a China tem particular relevo, e à luta dos povos em defesa da sua soberania e direitos.

 Impõe-se a expressão da indignação e condenação da agressão dos EUA e seus aliados. Impõe-se a solidariedade com a resistência da Síria, do povo sírio.

 

[Artigo tirado do sitio web portugués Avante, núm. 2.316, do 19 de abril de 2018]