Cuba: há 60 anos a construir o «impossível»

Gustavo Carneiro - 07 Xan 2019

Cuba lembra-nos que mesmo em contextos económicos adversos é possível distribuir a riqueza de forma justa e garantir a toda a população bens e serviços essenciais

 «Sejamos realistas, façamos o impossível.» A frase é de Ernesto Che Guevara, companheiro de Fidel e de Raul assassinado na Bolívia em 1967, e resume em grande medida a gesta revolucionária cubana, que comemorou anteontem, 1 de Janeiro, 60 anos sobre a libertação de Havana e o derube da ditadura de Fulgêncio Baptista.

 «Impossível» parecia, de facto, a vitória do Exército Rebelde, que combatia forças imensamente superiores em número e muito mais bem equipadas. Mas a superioridade moral dos revolucionários, a justeza da causa por que lutavam e a capacidade que demonstraram de interpretar os anseios e unir amplas massas do povo cubano acabou por concretizar o que a muitos surgia como uma utopia.

 «Impossível» afigurava-se, igualmente, a sobrevivência do governo revolucionário após ter levado por diante um vasto conjunto de medidas anti-imperialistas, antilatifundistas e antimonopolistas que colocaram em causa os poderosos interesses norte-americanos e ter proclamado o carácter socialista da revolução. Contudo, enfrentando toda a espécie de agressões – de invasões militares a inúmeras tentativas de assassinato dos seus líderes, do bloqueio e sabotagem económica a ataques terroristas –, a revolução cubana resiste, constituindo-se desde o primeiro dia, e até hoje, como exemplo de dignidade e de firmeza para os povos da América Latina e Caraíbas na sua luta pela emancipação.

 Igualmente «impossível» poderia parecer a muitos que um pequeno país, bloqueado pela maior potência económica do planeta, pudesse apresentar índices de desenvolvimento social e humano sem paralelo na sua região e inclusivamente capazes de fazer corar de vergonha muitos dirigentes do chamado «primeiro mundo». A revolução dos humildes, pelos humildes e para os humildes, de que falou Fidel Castro, consagrou ao povo cubano os direitos humanos essenciais – à educação, à saúde, à habitação, ao desporto, ao trabalho, à dignidade. «Esta noite, 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma delas é cubana!» Quantos estadistas podem dizer, com verdade, o que disse o líder histórico da revolução cubana?

 A pequena ilha socialista encontrou ainda a força necessária para retribuir a solidariedade que lhe era prestada nos quatro cantos do mundo, defendendo a independência de Angola, contribuindo para o fim do apartheid, cuidando de crianças vítimas do acidente nuclear de Chernobil, prestando auxílio médico a 500 milhões de pessoas de 165 países. E estes são apenas alguns – poucos, muito poucos – exemplos do internacionalismo cubano.

Unidade e participação

 A concretização de tantas «impossibilidades» traz consigo múltiplos ensinamentos. Seis décadas de revolução cubana confirmam desde logo que o povo unido jamais será vencido é muito mais do que uma palavra de ordem de comício; é, sim, um factor decisivo para a concretização, consolidação e defesa da revolução. Esta unidade constrói-se com a constante participação popular nas grandes decisões revolucionárias, como uma vez mais se viu no debate constitucional concluído a 15 de Novembro.

 Cuba lembra-nos também que mesmo em contextos económicos adversos é possível distribuir a riqueza de forma justa e garantir a toda a população bens e serviços essenciais. Que contraste com os EUA e a UE, onde crescem as desigualdades e se alarga a pobreza, a miséria e a exclusão, onde a mais opulenta riqueza convive com milhões de desempregados e cidadãos privados de educação, cuidados de saúde e protecção social, com crescentes fenómenos de racismo e xenofobia...

 «Revolução é unidade, é independência, é lutar pelos nossos sonhos de justiça para Cuba e para o mundo, que é a base do nosso patriotismo, do nosso socialismo e do nosso internacionalismo» – a caracterização de Fidel Castro permanece válida e actual. A revolução continua!

 

[Artigo tirado do sitio web Avante, núm. 2.353, do 3 de xaneiro de 2019]