EUA: Que há por trás das opções do gabinete de Trump?

Sara Flounders - 10 Xan 2017

Antes da eleição de Trump, os Estados Unidos estavam já em situação desfavorável relativamente a todos os demais países industrializados no que diz respeito aos padrões mensuráveis de experança de vida, mortalidade infantil e níveis educativos

Desde as eleições os media corporativos concentraram-se no gabinete do presidente eleito e nas nomeações do pessoal da Casa Branca, frequentemente anunciados por tweets e inconfidências. A disputa entre as facções da classe governante pela coordenação de vastos ministérios governamentais continua a ser uma luta viciada, com subterfúgios, filtração de informação, escândalos repentinos e exposição de factos sujos do passado pessoal.

 Enormes interesses estão suspensos em equilíbrio. Os indivíduos nomeados são esmagadoramente reaccionários e multimilionários. As suas nomeações confirmam uma nova etapa de guerra total contra a gente pobre e trabalhadora. Esta escalada pode provocar uma nova fase de luta de classes militante, a partir de baixo.

 Os departamentos que supervisam a educação pública, os cuidados de saúde, a habitação e a protecção do meio ambiente estão nas mãos de administradores que visam o desmantelamento e a destruição destas conquistas. As nomeações confirmam que nenhum sector da classe operária integra a base real de Donald Trump. Os seus compinchas são esmagadoramente milionários corporativos e operadores de fundos de cobertura, todos pessoas do seu estrato estreito e privilegiado.

 O seu gabinete será o mais rico na história dos Estados Unidos. Preservará as suas posições e beneficios pessoais apesar dos seus muitos ataques durante a campanha contra Goldman Sachs e sobre as ligações de Hillary Clinton a Wall Street. As nomeações de Trump incluem três actuais ou antigos banqueiros de Goldman Sachs e outros investidores multimilionários, para além de directores-gerais de grandes corporações.

 Cada uma das nomeações de Trump ocupar-se-á de serviços governamentais que atribuem milhares de milhões de dólares em isenções de impostos para as empresas privadas.

O gabinete de Trump e o capitalismo

 Que dizem as nomeações de Trump sobre o próprio sistema capitalista? Durante três gerações a classe dominante estado-unidense comprou a paz social no seu país para fazer guerras no estrangeiro. Mas a decadência do capitalismo, a desindustrialização, uma economia globalizada e a fuga de capitais que procuram os salários mais baixos possíveis corroeram as vantagens passadas da classe operária dos Estados Unidos.

 Inclusivamente, antes da eleição de Trump, os Estados Unidos estavam já em situação desfavorável relativamente a todos os demais países industrializados no que diz respeito aos padrões mensuráveis de experança de vida, mortalidade infantil e níveis educativos. O impulso para maximizar os lucros é cada vez mais impiedoso. Cada vantagem social ganha através de décadas de luta de classes nos Estados Unidos está sendo atacada.

 Durante a campanha eleitoral, Trump acusou repetidamente o Goldman Sachs de explorar a classe trabalhadora. Não obstante, escolheu o presidente de Goldman Sachs, Gary Cohn, para dirigir o poderoso Conselho Económico Nacional da Casa Branca. Nomeou Steven Mnuchin, que trabalhou no Goldman Sachs durante 17 anos, como secretário do Tesouro. Wilbur Ross, CEO da empresa de banca de investimento Rothschild Inc., com um valor de $2.5 mil milhões, foi nomeado para dirigir o Departamento de Comercio.

 Um titulo do New York Times de 10 de Dezembro aplaudiu estas opções de gabinete como “obstinadas”. Tais decisões “difíceis” incluem a multimilionária Betty DeVos como secretaria do Departamento de Educação. O seu objectivo é prejudicar a educação pública e dar vales escolares para financiar escolas privadas e religiosas.

 Tom Price como secretário da Saúde e Serviços Humanos quer desfigurar a Lei de Cuidados de Saúde a Baixo Preço. É co-patrocinador de um projecto de lei para outorgar aos fetos igual protecção sob a Emenda 14 e é defensor da proibição da cobertura de saúde e de todos os fundos federais para o aborto.

 Jeff Sessions, nomeado como fiscal geral, é um senador republicano de Alabama cujo objectivo está em impiedosas políticas de imigração. É um defensor racista do encarceramento massivo, com a justificação de combater as drogas que provocam dependência.

 Andrew Puzder, Secretario do Trabalho, é um Presidente Executivo (P.E.) na indústria da comida rápida que se opõe a um aumento do salario mínimo federal.

 O congressista republicano Mike Pompeo, que instou o Congresso a reestabelecer a recolha a granel de registos de chamadas telefónicas domésticas, foi nomeado director da CIA. As escolhas militares de Trump deveriam constituir um alarme para aqueles que alimentavam a ilusão de que Trump teria uma abordagem menos ameaçadora que Clinton, que falou de uma “zona de interdição de voo” na Síria, na expansão da NATO e no cerco militar a Rússia e China.

 Ele nomeou o General da Marinha, James “Mad Dog”[“cão raivoso”] Mattis como Secretario da Defesa, o General John Kelly, reformado da Marinha como Secretario da Homeland Security e o general reformado Michael Flynn como seu conselheiro de segurança nacional. Todos estes generais são considerados militaristas extremistas, mesmo pelos padrões do Pentágono.

 O cepticismo perante as alterações climáticas e uma forte aliança com as indústrias do petróleo e do carvão são as qualificações de Cathy McMorris Rodgers, para dirigir o Departamento do Interior. Ela apoia a perfuração em terras do tratado do nativo americano e o acesso a terras federais intactas.

 Scott Pruitt como administrador da Agencia de Protecção Ambiental pede “liberdade para as empresas estado-unidenses” e o fim das regulamentações.

 Para qualquer pessoa preocupada com o meio ambiente, a alteração climática e a guerra, a nomeação prevista de Rex Tillerson, CEO de ExxonMobil – “big oil” – como secretário de Estado é especialmente inquietante. A ExxonMobil é a força mais poderosa na negação da alteração climática e tem investimentos multimilionários no Médio Oriente, Rússia, China, Venezuela, entre outros.

O caminho a seguir

 A feroz luta na classe dominante que está a surgir entre interesses corporativos em confronto desestabilizará ainda mais o processo político e reduzirá a confiança na ordem capitalista. O Partido Democrata fará todo o possível para conduzir o descontentamento para canais eleitorais seguros e controlados. A escala do assalto à classe operária projectada por estas nomeações despertará uma resistência sem precedentes dos mais oprimidos. O papel da liderança revolucionária é ajudar a despertar a resistência da classe operária que luta pelos seus próprios interesses.

 

[Artigo tirado do sitio web portugués ODiario.info, do 4 de xaneiro de 2017]