O clima e o rasto do dinheiro

F. William Engdahl - 22 Out 2019

Quando as corporações multinacionais mais influentes, os maiores investidores institucionais do mundo, a ONU, o Banco Mundial, o Banco da Inglaterra e outros bancos centrais do BIS se alinham atrás do financiamento da chamada Agenda Verde, chamem-lhe Green New Deal ou outra coisa, é hora de olhar para além da superfície das campanhas activistas do clima, para a agenda real

 Clima. Quem havia de dizer. As mesmas mega-corporações e mega-bilionários por detrás da globalização da economia mundial nas últimas décadas, cuja busca pelo valor accionista e pela redução de custos causou tantos danos no nosso meio ambiente seja no mundo industrializado seja nas economias subdesenvolvidas de África, Ásia e América Latina são os principais patrocinadores do movimento “de base” pela descarbonização, da Suécia à Alemanha aos EUA e mais além.

 Será isto uma pontada da consciência culpada, ou poderia ser uma mais profunda agenda da financeirização do ar que respiramos e muito mais?

 Seja o que for que se possa acreditar sobre os perigos do CO2 e os riscos do aquecimento global criando uma catástrofe global de aumento de temperatura média de 1,5 a 2 graus Celsius nos próximos 12 anos, vale a pena observar quem está a promover a actual inundação de propaganda e activismo climático.

Finança verde

 Vários anos antes de Al Gore e outros decidirem usar uma jovem estudante sueca para ser a criança-cartaz da urgência da acção climática, ou de surgir nos EUA o apelo de Alexandria Ocasio-Cortez a uma completa reorganização da economia em torno de um Green New Deal, os gigantes da finança começaram a elaborar esquemas para direcionar centenas de milhares de milhões de fundos futuros para investimentos em empresas “climáticas” em muitos casos sem valor.

 Em 2013, após anos de cuidadosa preparação, uma empresa imobiliária sueca, Vasakronan, emitiu o primeiro “Green Bond” corporativo. Foram seguidos por outros, incluindo Apple, SNCF e o grande banco francês Credit Agricole. Em Novembro de 2013 a muito atribulada Tesla Energy de Elon Musk emitiu o primeiro activo com segurança lastreada na energia solar. Hoje, de acordo com a chamada Climate Bonds Initiative, mais de US $ 500 milhões de milhões estão pendentes em tais Títulos Verdes. Os criadores dessa ideia de títulos afirmam que o seu objectivo é conquistar uma parcela maioritária dos US $ 45 milhões de milhões em activos sob gestão global que se comprometeram nominalmente a investir em projectos “amigos do clima.

 O gentil Prince Charles, futuro monarca do Reino Unido, juntamente com a finança do Banco da Inglaterra e da City de Londres, promoveram “instrumentos financeiros verdes”, liderados pelos Green Bonds, para redireccionar planos de pensão e fundos mutualistas para projectos verdes. Um interveniente chave na ligação das instituições financeiras mundiais com a Agenda Verde é o chefe do Banco da Inglaterra, Mark Carney. Em Dezembro de 2015, o Conselho de Estabilidade Financeira (FSB) do Banco de Pagamentos Internacionais, presidido na altura por Carney, criou a Força-Tarefa sobre Divulgação Financeira Relacionada com o Clima (TCFD), para aconselhar “investidores, credores e seguros sobre riscos relacionados com o clima”. Tratou-se certamente de uma bizarra focagem para os banqueiros centrais do mundo.

 Em 2016, o TCFD, juntamente com a City of London Corporation e o governo do Reino Unido, iniciaram a Iniciativa de Financiamento Verde, com o objectivo de canalizar milhões de milhões de dólares para investimentos “verdes”. Os banqueiros centrais do FSB nomearam 31 pessoas para formar o TCFD. Presidido pelo bilionário Michael Bloomberg, do sector financeiro, inclui pessoas-chave do JP MorganChase; do BlackRock - um dos maiores gestores de activos do mundo, com quase US $ 7 milhões de milhões; o Banco Barclays; HSBC, o banco Londres-Hong Kong repetidamente multado por lavagem de fundos da droga e outras origens obscuras; a Swiss Re, a segunda maior resseguradora do mundo; o Banco ICBC da China; a Tata Steel, a petroleira ENI, a Dow Chemical; o gigante mineiro BHP Billington e David Blood da Generation Investment LLC de Al Gore. De facto, parece que são as raposas quem está a escrever as regras para o novo Galinheiro Verde.

 Carney, do Bank of England, foi também foi um actor-chave nos esforços para transformar a City de Londres no centro financeiro da Finança Verde global. O Chanceler do Tesouro do Reino Unido que está de saída, Philip Hammond, divulgou em Julho de 2019 um Livro Branco, “Estratégia Financeira Verde: Transformando a Finança para um Futuro Mais Verde”. O documento afirma: “Uma das iniciativas mais influentes a emergir é o Conselho de Estabilidade Financeira, Força-Tarefa do Sector Privado sobre Divulgações Financeiras Relacionadas com o Clima (TCFD), apoiada por Mark Carney e presidida por Michael Bloomberg. Isto foi endossado por instituições que representam US $ 118 milhares de milhões em de activos em todo o mundo. “Parece haver aqui um plano. O plano é a financeirização de toda a economia mundial usando o medo de um cenário de fim do mundo para alcançar objectivos arbitrários, tais como “emissões líquidas zero de gases de efeito de estufa”.

Goldman Sachs Actor Principal

 O onipresente banco de Wall Street, Goldman Sachs, que gerou, entre outros, o presidente cessante do BCE, Mario Draghi, e o presidente do Banco da Inglaterra, Carney, acaba de revelar o primeiro índice global das acções ambientais mais cotadas, realizado em conjunto com o CDP de Londres, anteriormente o Projecto de Divulgação de Carbono. O CDP, significativamente, é financiado por investidores como HSBC, JPMorgan Chase, Bank of America, Merrill Lynch, Goldman Sachs, American International Group e State Street Corp.

 O novo índice, chamado CDP Environment EW e CDP Eurozone EW, visa atrair fundos de investimento, sistemas de pensões estatais como o CalPERS (Sistema de Aposentadoria de Funcionários Públicos da Califórnia) e CalSTRS (Sistema de Aposentadoria de Professores do Estado da Califórnia) com um total combinado de mais de US $ 600 milhares de milhões em activos, para investir nos seus cuidadosamente escolhidos alvos. As empresas mais bem cotadas no índice incluem a Alphabet, proprietária do Google, Microsoft, ING Group, Diageo, Philips, Danone e, convenientemente, Goldman Sachs.

Entram Greta, AOC e Companhia

 Nesse momento, os acontecimentos tomam uma cínica vertente quando somos confrontados com muito populares e muito promovidos activistas climáticos, como Greta Thunberg da Suécia, ou Alexandria Ocasio-Cortez, 29 anos, de Nova York, e o Green New Deal. Por muito sinceros que estes activistas possam ser, existe uma bem oleada máquina financeira por detrás da sua promoção para obter ganhos.

 Greta Thunberg faz parte de uma rede bem conectada, ligada à organização de Al Gore, que está a ser cinica e profissionalmente comercializada e usada por agências como a ONU, a Comissão da UE e os interesses financeiros por detrás da actual agenda climática. Como o investigador e activista climático canadiano Cory Morningstar documenta numa excelente série de posts, o que está em jogo é uma rede bem urdida que está ligada ao investidor climático e enormemente rico lucrador com clima dos EUA, Al Gore, presidente do grupo Generation Investment.

 O parceiro de Gore, David Blood, ex-funcionário do Goldman Sachs, como mencionado anteriormente, é membro do TCFD criado pelo BIS. Greta Thunberg, juntamente com sua amiga climática norte-americana de 17 anos, Jamie Margolin, foram listadas como “conselheira e encarregada especial para a juventude” da ONG sueca Não Temos Tempo, fundada pelo seu CEO Ingmar Rentzhog. Rentzhog é membro dos Líderes de Organização da Realidade Climática de Al Gore e integra a Força-Tarefa de Política Climática Europeia. Foi treinado em Março de 2017 por Al Gore em Denver e novamente em Junho de 2018 em Berlim. O Projecto de Realidade Climática de Al Gore é um parceiro de We Don’t Have Time (Não Temos Tempo).

 A congressista Alexandria Ocasio-Cortez (AOC), que causou um grande estrago nos seus primeiros dias no Congresso dos EUA por apresentar um “Green New Deal” para reorganizar completamente a economia dos EUA a um custo de talvez US $ 100 milhões de milhões, não está também sem orientação especializada. AOC admitiu abertamente que concorreu ao Congresso por insistência de um grupo chamado Justice Democrats. Disse a um entrevistador: “Eu não estaria a concorrer se não fosse o apoio dos Justice Democrats e do Brand New Congress. Na verdade foram essas organizações, foi a JD e também o Brand New Congress, que ambos me pediram em primeiro lugar para concorrer. Foram quem me ligou há um ano e meio …” Agora, como congressista, os conselheiros de AOC incluem o co-fundador do Justice Democrats, Zack Exley. Exley era bolseiro da Open Society e obteve fundos de, entre outras, a Fundação Open Society e da Ford Foundation para criar um antecessor do Justice Democrats para recrutar candidatos seleccionados para os cargos.

A verdadeira agenda é económica

 Os vínculos entre os maiores grupos financeiros do mundo, bancos centrais e corporações globais com o actual impulso por uma estratégia climática radical para abandonar a economia assente em combustíveis fósseis em favor de uma vaga, não inexplicada economia verde, ao que parece, tem pouco a ver com genuína preocupação em fazer do nosso planeta um ambiente limpo e saudável para viver. É antes uma agenda, intimamente ligada à Agenda 2030 da ONU para uma economia “sustentável,” e para gerar literalmente milhões de milhões de dólares em nova riqueza para os bancos globais e gigantes financeiros que constituem os reais poderes existentes.

 Em Fevereiro de 2019, no seguimento de um discurso de Greta Thunberg na Comissão da UE em Bruxelas, o então presidente da Comissão da UE Jean-Claude Juncker, depois de beijar galantemente a mão de Greta, parecia ter sido impelido a uma acção efectiva. Disse a Greta e à imprensa que a UE deveria gastar centenas de milhares de milhões de euros durante os próximos 10 anos no combate às alterações climáticas. Juncker propôs que entre 2021 e 2027, “um em cada quatro euros gastos no orçamento da UE vá para uma acção para mitigar a alteração climática”. O que o astuto Juncker não disse foi que a decisão não tinha nada a ver com o apelo da jovem activista sueca.

 Fora tomada em conjunto com o Banco Mundial um ano antes, em 26 de Setembro de 2018, na One Planet Summit, juntamente com o Banco Mundial, as Fundações Bloomberg, o Fórum Económico Mundial e outros. Juncker usou inteligentemente a atenção mediática dedicada à jovem sueca para promover a sua agenda climática.

 Em 17 de Outubro de 2018, dias após o acordo da UE na Cimeira One Planet, a UE de Juncker assinou um Memorando de Entendimento com a Breakthrough Energy-Europe, no qual as empresas membros da Breakthrough Energy-Europe terão acesso preferencial a qualquer financiamento.

 Os membros da Breakthrough Energy incluem Richard Branson, da Virgin Air, Bill Gates, Jack Ma do Alibaba, Mark Zuckerberg do Facebook, Príncipe Al-Waleed bin Talal da HRH, Ray Dalio da Bridgewater Associates; Julian Robertson do gigante de hedge funds Tiger Management; David Rubenstein, fundador do Carlyle Group; George Soros, Presidente do Soros Fund Management LLC; Masayoshi Son, fundador do Softbank, Japão.

 Não se engane. Quando as corporações multinacionais mais influentes, os maiores investidores institucionais do mundo, incluindo BlackRock e Goldman Sachs, a ONU, o Banco Mundial, o Banco da Inglaterra e outros bancos centrais do BIS se alinham atrás do financiamento da chamada Agenda Verde, chamem-lhe Green New Deal ou outra coisa, é hora de olhar para além da superfície das campanhas activistas do clima, para a agenda real. A imagem que surge é a tentativa de reorganização financeira da economia mundial usando o clima, algo em que o sol e sua energia possuem ordens de magnitude mais à dimensão daquilo que a humanidade jamais pôde - para tentar convencer a gente comum a fazer sacrifícios incalculáveis ​​para “salvar o nosso planeta.”

 Em 2010, o chefe do Grupo de Trabalho 3 do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, Dr. Otmar Edenhofer, disse a um entrevistador: “… é preciso dizer claramente que redistribuímos de facto a riqueza do mundo através da política climática. É preciso libertarmo-nos da ilusão de que a política climática internacional é política ambiental. Isso não tem quase nada a ver com política ambiental, com problemas como a deflorestação ou o buraco do ozono.” Desde então, a estratégia de política económica tornou-se muito mais desenvolvida.

 

[Artigo tirado do sitio web ODiario.info, do 18 de outubro de 2019]