Síria

Pedro Guerreiro - 07 Out 2016

Por mais intensa que seja a campanha de manipulação mediática, a verdade é que os Estados Unidos e os seus aliados continuam a intervir na Síria e a instrumentalizar os diversos grupos armados que criaram e apoiam com o objectivo de dividir e destruir o Estado sírio

 Os recentes desenvolvimentos da situação na Síria vêm demonstrar que o imperialismo norte-americano continua apostado na brutal guerra de agressão contra a soberania e integridade territorial da República Árabe Síria e a tentar impor o afastamento do Governo sírio, dirigido pelo presidente Bashar al-Assad. Uma criminosa guerra que enfrenta, há mais de cinco anos, a notável e heróica resistência das forças patrióticas sírias, do povo sírio.

 A forma como desde o primeiro momento e sistematicamente diversos grupos armados incumpriram o cessar-fogo iniciado a 13 de Setembro, o ataque dos Estados Unidos às Forças Armadas Sirias, em Deir ez-Zor, a 17 de Setembro, as diversas provocações montadas, a intensa guerra mediática e a escalada de ameaças contra a Federação Russa que se seguiu, vieram colocar a nu o jogo duplo das autoridades americanas que dizendo combater os grupos terroristas na Síria, efectivamente os têm utilizado, apoiado e protegido directa e indirectamente, designem-se eles por «Estado Islâmico», «Frente Al-Nusra» ou «Jabhat Fateh al-Sham», ou por uma qualquer outra designação temporária e de conveniência que esses grupos venham a adoptar.

 Como tem sido denunciado, cada cessar-fogo respeitado pelas autoridades sírias tem sido utilizado para rearmar os diversos grupos armados, possibilitando a continuação da sua acção de terror, incluindo a perpetração dos mais cruéis crimes contra o povo sírio.

 Por mais intensa que seja a campanha de manipulação mediática, a verdade é que os Estados Unidos e os seus aliados – França, Reino Unido, Turquia, Arabia Saudita, Qatar, Israel, entre outros – continuam a intervir na Síria e a instrumentalizar os diversos grupos armados que criaram e apoiam com o objectivo de dividir e destruir o Estado sírio – aliás como fizeram no Iraque e na Líbia, com as dramáticas consequências que se conhece.

 Por maior que seja a deformação da realidade que nos querem impor, nada pode esconder que, na actualidade, são os Estados Unidos, e seus aliados, os responsáveis por todas as guerras de agressão a estados soberanos. Estados que, afirmando e defendendo a sua soberania e independência, representam de alguma forma um factor de contenção à imposição do poder hegemónico do imperialismo, nomeadamente do imperialismo norte-americano.

 Neste quadro, assumem particular gravidade as declarações proferidas por John Kirby, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano que, na semana passada, ameaçou que os «grupos extremistas continuarão a explorar os vácuos existentes na Síria para expandir as suas operações, que podem incluir ataques contra os interesses russos, talvez até cidades russas» e que «a Rússia vai continuar a enviar soldados para casa em sacos mortuários, e vai continuar a perder recursos, talvez até mesmo aviões».

 O imperialismo dá mostras de não querer abandonar facilmente o seu intento de destruir a República Árabe Síria – com o seu posicionamento soberano, multicultural, pan-árabe e anti-imperialista –, mas a firme resistência das forças patrióticas da Síria, com o importante apoio dos seus aliados, e o contributo da solidariedade das forças da paz e anti-imperialistas do mundo, poderá colocá-lo em recuo.

 A obstinada resistência da Síria em defesa do seu povo, da sua soberania e integridade territorial exige não a associação ou a conivência com as campanhas que visam branquear a agressão levada a cabo pelos Estados Unidos e seus aliados, mas a solidariedade de todos os que defendem o direito à auto-determinação dos povos e a paz.

 

[Artigo tirado do sitio web portugués ‘Avante’, núm. 2.236, do 6 de outubro de 2016]